Orquestra da Quebrada vira tema de pesquisa em congresso acadêmico internacional

Orquestra é analisada como experiência de democratização cultural, protagonismo comunitário e transformação social no International Association for the Study of Popular Music – IASPM | KILL’EM WITH MUSIC, realizado em Porto, Portugal.

12/22/20253 min read

A Orquestra da Quebrada, iniciativa do Instituto Cultura Viva que atua na formação musical e no fortalecimento de jovens de territórios periféricos da Grande Vitória, foi tema de um trabalho acadêmico apresentado pela doutoranda Jaqueline Torquatro, no âmbito de seu Doutorado em Artes, pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), com bolsa da Capes. A pesquisa integrou a programação do congresso internacional International Association for the Study of Popular Music – IASPM | KILL’EM WITH MUSIC, realizado em Porto, Portugal.

Vinculada à linha de pesquisa Teorias e Processos Artístico-Culturais, Jaqueline apresentou o artigo “Cultura, Território e Transformação: a Revolução Sonora da Orquestra da Quebrada”, no qual analisa a atuação do projeto como uma prática cultural insurgente frente à mercantilização e à elitização da cultura. O estudo insere a Orquestra da Quebrada em um conjunto mais amplo de coletivos artísticos capixabas que atuam na democratização não apenas do acesso, mas sobretudo da produção cultural, valorizando saberes locais, práticas periféricas e processos coletivos de criação.

Segundo a pesquisadora, o contato com a Orquestra da Quebrada ocorreu durante uma apresentação do grupo em um evento de boas-vindas do programa Viver a Música, realizado em Serra-ES. A partir dessa experiência, o projeto passou a integrar sua investigação sobre coletivos que operam a cultura como trabalho, experiência sensível e prática social emancipadora, deslocando a lógica do consumo passivo para a construção ativa e comunitária da arte.

Na análise desenvolvida, a Orquestra da Quebrada é compreendida como um projeto que rompe com heranças coloniais e estruturas excludentes da indústria cultural ao retirar a música orquestral de espaços historicamente elitizados e inseri-la em territórios periféricos — ao mesmo tempo em que leva a periferia para os palcos tradicionais.

Para Jaqueline, a orquestra "desloca a comunidade da posição de espectadora massificada para a de produtora cultural, onde os próprios moradores participam da construção coletiva do projeto, fortalecendo a autonomia e a valorização da cultura historicamente marginalizada, amplia o acesso ao consumo da cultura, ressignifica a música erudita a partir de suas vivências, identidades e territórios e reafirma a cultura como direito, como instrumento de emancipação e como possibilidade concreta de transformação social", afirma.

Para o diretor-presidente do Instituto Cultura Viva e maestro da Orquestra da Quebrada, Eduardo Lucas, o reconhecimento acadêmico do projeto reforça a importância de aproximar universidade e território. Doutorando pela UniRio, ele destaca que estudos como o de Jaqueline contribuem para legitimar, registrar e aprofundar o debate sobre a cultura periférica no campo acadêmico.

“A pesquisa acadêmica tem um papel fundamental na valorização da cultura periférica, porque ajuda a sistematizar, dar visibilidade e reconhecimento a práticas que já produzem transformação real nos territórios. Quando a universidade olha para esses projetos com seriedade, ela contribui para romper estigmas e para afirmar a cultura como direito, como trabalho e como produção de conhecimento”, afirma Eduardo.

O estudo soma-se a um conjunto crescente de análises que posicionam a Orquestra da Quebrada como uma experiência relevante no campo das artes, da educação e das políticas culturais, consolidando o projeto como referência na articulação entre música, território e protagonismo comunitário.